No dia 14 de agosto uma lenda do rock soprou setenta e nove velinhas. Trata-se de David Crosby, músico americano, duas vezes nomeado ao Rock'n'Roll Hall of Fame com as bandas Byrds e Crosby, Stills, Nash & Young. Crosby tem um currículo que o coloca de forma inexorável no centro da história do rock.
Arauto da contracultura dos anos sessenta, foi membro fundador da banda The Byrds, influência confessa dos Beatles em sua transição para o psicodelismo (entre Help e Rubber Soul) e considerados os precursores do folk-rock; esteve em Monterrey Pop em 1967 substituindo Neil Young no Bufallo Springfield; e esteve também em Woodstock dando um inesquecível pontapé inicial com o supergrupo CSN&Y.
Daí em diante, Crosby uma estrela em ascensão, ícone da comunidade de Laurel Canyon, notabilizada por ser a área dos músicos do folk-rock, foi convivendo conturbadamente com a fama.
De lá até as velinhas sopradas de agora, muita água rolou. Teve decadência artística por vício pesado em heroína e cocaína, prisão por porte de drogas que lhe rendeu vários meses de estaleiro numa penitenciária do Texas, teve transplante de fígado numa época em que ainda era experimental.
E essa foi a deixa para retomar a carreira de forma vitoriosa, condição que mantém até hoje mostrando uma produção mais prolífica na proximidade dos oitenta anos do que quando tinha trinta ou quarenta ou cinquenta e por aí vai.
Mas embora ele sempre tenha sido prioritariamente um músico de bandas, essa produção agora se intensificou mais na carreira solo, pois o superquarteto CSN&Y, que sempre teve inúmeras rupturas e retomadas, estas sempre muito esperadas, no momento está gozando uma aposentadoria meio forçada depois de sérios desentendimentos dele com os outros integrantes, inclusive seu amigo pessoal e vizinho Graham Nash, além de Neil Young, a quem ele sempre se referiu como quase um ídolo.
E estes já disseram o suficiente para a imprensa que não dividem mais nem palco nem estúdio com o falastrão Crosby. Acompanhar David Crosby agora é seguir sua carreira solo que nos últimos seis anos rendeu quatro álbuns (o que é uma novidade para alguém que após o primeiro disco solo esperou dezoito anos para lançar o seguinte).
Lamenta-se por um lado o estrago causado nas amizades históricas, festeja-se por outro sua retomada não apenas da carreira mas da criatividade em alta, inclusive se aliando a músicos de gerações mais jovens para acompanhar seus movimentos.
David Crosby vai chegando a oito décadas de uma vida errática que lhe garantem fácil o título de sobrevivente do rock. E nós, que nos acostumamos a ter a sonoridade das suas músicas acariciando nossos ouvidos, e ao mesmo tempo provocando nossas emoções com seus complexos e belos labirintos melódicos, somos sobreviventes também.
Bom, a essa altura eu aproveito para ouvir Here If You Listen, seu mais recente disco. Que logo venha o seguinte, afinal os fãs sempre querem mais. E parece que em toda a sua carreira, esse se mostra o momento mais propício para tal expectativa.
Plínio Machado é componente do Bloco do Fuá e também faz parte do projeto de Blues, Mano Waters, um duo com André Bueno. O Canal no Youtube chama Plinio Machado. Lives são sempre aos domingos às 17h30
