O Bloco do Fuá vem a público denunciar e relatar as violências que sofremos da PM de São Paulo nesse domingo, 19/02, após o cortejo do Fuá, que dispersou parte dos foliões a cacetadas e ferindo algumas pessoas gravemente.

Para tanto, é preciso contextualizar o que ocorreu nesse domingo após dois anos sem carnaval. Nesse dia choveu incessantemente até às 14h30 e com isso houve um atraso na saída do cortejo.

Houve uma pressão por parte da prefeitura que queria que saíssemos às 15h, como se fôssemos uma escola de samba que desfila no sambódromo e tem horário para entrar e sair na avenida. Esse posicionamento já nos evidencia o total desconhecimento do que é um carnaval de rua: livre, democrático e cidadão.

Só quem faz carnaval de rua sabe que o "esquenta" é importante para a bateria e para os músicos. Não se pode sair sem ter montado ou passado o som. Havia também toda uma decoração do caminhão de som. Queríamos que tudo fosse perfeito, pois era o cortejo de 10 anos do bloco.

Um pouco antes das 17h quando saímos havia muita gente no bloco e também muitos ambulantes o que dificultava a caminhada do bloco e a segurança dos foliões vem em primeiro lugar, pois estávamos com um caminhão de som.

É preciso dizer que nem na concentração nem no percurso havia banheiros químicos, só na rua Conselheiro Carrão com rua Rui Barbosa. Fizemos uma parada ali na Rua Rui Barbosa para hidratação e para que as pessoas, foliões, bateria e até músicos, pudessem ir ao banheiro.

Quando fomos reiniciar nossa caminhada, às 18h, para nosso espanto, havia uma barreira de viaturas montada na esquina da Rua Rui Barbosa com Rua Manuel Dutra. O subtenente da PM nos disse que o "cortejo não poderia mais caminhar, pois atrasou sua saída e que o horário de término era às 19h e não teríamos tempo hábil para terminar todo o percurso” que sempre fazemos. Pedimos para dispersar na Rua Major Diogo que estava três quadras dali, mas estavam irredutíveis inclusive com apoio dos fiscais e coordenadores da prefeitura que nos acompanhavam.

Como não houve negociação com a PM e a prefeitura, o Bloco ficou na Rua Rui Barbosa parado por mais de uma hora e isso acarretou a chegada de mais e mais pessoas fechando inclusive os dois lados da Rua Rui Barbosa.

Às 19h paramos o som e negociamos tocar mais duas músicas desligar o som e levarmos o caminhão de som embora. E assim foi feito, às 19h15 o som estava desligado e recolhemos nossos instrumentos e fomos embora desmontar o caminhão de som.

Havia muitas pessoas na rua e estavam cantando e tocando naquela "adrenalina" pós cortejo. Havia uma felicidade reinante, decorrente de dois anos sem carnaval e enfrentando uma dura pandemia e também fruto do trabalho realizado pelo bloco durante todo ano para chegar nesse dia. São oficinas de percussão mensais, saraus, encontros de criação de músicas e artes. Uma ação de cidadania realizada pelos blocos de carnaval essencial para nossa cidade. Mas, soubemos por relatos que assim que saímos, sem aviso prévio, a PM começou a "dispersão da via" às cacetadas. Algumas pessoas ficaram gravemente feridas e destacamos duas, uma que levou oito pontos na testa e outra em que ele e a mulher foram agredidos, ele levou uma cacetada na cabeça e teve que levar 6 pontos na cabeça e ainda está com um hematoma enorme na coxa e ela empurrada com muita violência.

Episódios como esse nunca poderiam acontecer e devem ser rechaçados pela sociedade. Há relatos que outros blocos sofreram repressão e violência parecidas.

Os blocos unidos farão uma manifestação de repúdio a atuação da PMSP (Prefeitura Municipal de SP) representada ali pela Secretaria de Cultura, que no mínimo, foi conivente com a PM, que foi extremamente violenta com os cidadãos foliões que queriam apenas se divertir e foram parar no hospital. Foram vítimas de quem estava ali com a obrigação de proteger.

Obs: No "Termo de Compromisso" que fomos obrigados a assinar com a prefeitura o encerramento estava às 20h