Sem dúvida nenhuma, uma das melhores adaptações da obra de Bram Stoker. O genial Herzog abarca temas importantes nesta obra, com delicadeza e sensibilidade, investindo numa narrativa das imagens à moda da Nouvelle Vague francesa, sem o radicalismo experimental de Godard.
Nosferatu é um filme de poucos diálogos e imagens belas, potentes, que dizem muito e com grande força. Logo no início já somos agraciados com uma cena de grande impacto que arrepia e ao mesmo tempo nos leva ao encontro de mazelas da sociedade acompanhada de uma música grandiosa, de cair o queixo. Trata-se do ocorrido no México na cidade de Guanajuato durante a primeira metade de século 20, quando centenas de vítimas de um surto de coléra foram enterradas em criptas e não mais em covas no chão, por falta de espaço. Seus corpos, segundo pesquisadores, devido ao clima quente e árido da região não se decompuseram, mas sim mumificaram. O bizarro e triste desta questão é que esse fato só foi descoberto porque o governo local exigiu dos familiares o pagamento de taxas para que seus parentes continuassem nas criptas e caso não pagassem os mesmos seriam retirados e colocados em outro lugar, o que aconteceu até ser aprovada nova lei que proibiu que os mortos fossem desenterrados.
Este filme, de 1979, situa-se no início do neoliberalismo expressando o capitalismo e mais de um de seus ciclos de crise, e Herzog nos traz um mundo decadente na figura do Conde Drácula. Um mal que traz consigo a peste.
Encontramos nesta obra imagens fortes que evidenciam contradições cruéis da humanidade, muitas vezes sustentadas com sorrisos e bons vinhos. A partir de personagens rodeados por ratos vindo com a peste, Herzog nos convida a pensar: são estas pessoas que protagonizarão significativas transformações sociais?
O diretor também é feroz no ataque ao patriarcalismo. A grande heroína desta história é Lucy Harker, uma personagem comum que poderia ser encontrada em qualquer folhetim romântico. Ela visualiza o grande mal que assola sua cidade, mas é invisível aos olhos dos homens, incluindo Van Helsing, um cientista inerte que só se preocupa com o que se enquadra nos seus critérios de cientificidade e a polícia.
O ápice do conflito, cenas finais do filme é de uma beleza sem igual, mas não vou dar spoiler neste texto. A boa notícia é que você pode assisti-lo no link indicado abaixo.
Agora é com vocês. Bom divertimento.
Trailler:
Nosferatu: O Vampiro da Noite (1979)
Título original: Nosferatu: Phantom der Nacht
Direção: Werner Herzog
Duração: 107 min.
Roteiro: Bram Stoker / Werner Herzog
Filme completo