Uma boa dica de filme para assistirmos, principalmente nesses tempos de pandemia, e avanço à galope de um ultra-liberalismo destruidor de direitos e genocida.
Furyo fala de encontros numa época de desencontros. Explicitando o Humano em movimento em toda sua contraditoriedade, este filme trata do amor como philia (entre iguais) que se manifesta num campo de concentração japonês, situado na ilha de Java em plena Segunda Guerra Mundial.

Trilha sonora Furyo Soundtrack : Ryuichi Sakamoto

É quase automática a comparação com o tempo que estamos vivendo: confinados (pelo menos deveríamos estar), num clima de extrema precariedade e medo, e com manifestações de solidariedade que, por algum momento, setores diversos da sociedade acreditaram em uma possível humanização do mundo e de nossas relações sociais.

É que este filme defende a ideia de um humano que se transforma o tempo todo, de maneiras diferentes: aqui “pau que nasce torto não morre torto”. Neste caso, é correto dizer que “o mesmo Homem não atravessa o mesmo rio duas vezes”. Com um elenco de primeira (David Bowie, Ryuichi Sakamoto, Takeshi Kitano e Tom Conti), esta obra de Nagisa Oshima fala de sexualidades em movimento, tirando todo traço essencialista dessas práticas, de maneira lúcida e polêmica. Além de atuar, Sakamoto também assina a trilha sonora que é um primor.

É um filme triste, afinal se passa em tempos de guerra, mas também fala de esperança, pois aposta na contradição presente em todos atos de opressão e exploração. Porém, não são todas pessoas que suportam essas contradições e tiram um bom proveito delas. É necessário um tipo de identidade, que se permita encarar essas forças e refleti-las com cuidado. Isso não depende de inteligências e sim de um certo questionamento dos papéis sociais que fazem parte de nossa ordem social, e uma busca de construção de uma história de vida baseada em princípios éticos negociados com os vários “outros” significativos, numa relação de respeito.

Por fim, Furyo é um filme atual e perturbador. Prepare a pipoca e aproveite.

Furyo – Em nome da honra (Merry Christmas, Mr. Lawrence)
Ano de produção: 1983


Dinho ( Nélson Fernandes Bonifácio Jr ) é integrante do Bloco do Fuá )