As Asas do Desejo

Esse filme fala de uma grande ferida da Alemanha, do povo alemão: o Holocausto. É difícil conceber que este país (com tamanha tradição na filosofia) tenha sido palco de um dos episódios mais tristes, cruéis e estúpidos da História. Pois os personagens desta obra são os herdeiros da Shoah.

Personagens tristes, melancólicos, que parecem ter perdido o “dom” da narrativa. Estes seres não falam de seus sofrimentos com ninguém... se sabemos deles, é por meios dos anjos que ouvem suas almas. Curioso é quando um dos anjos começa a acompanhar um historiador muito velho com sua grande angústia: “quando eu morrer, quem continuará contando histórias para estas crianças?” Em outro momento, o historiador/contador de estórias irá comentar que cada alemão erigiu um muro ao redor de si. Sim, seguramente está falando da morte da narrativa, um tema tão recorrente na obra de Walter Benjamin. Por outro lado, o povo alemão continua sofrendo... no silêncio e na solidão.

Da mesma forma, o texto de Paul Preciado incluído no Sopa de Wuhan, fala de um ensimesmamento potencializado pela pandemia do coronavirus. As fronteiras fechadas dos Estados Nacionais, agora é nossa própria pele; o que Preciado chama de corpo-território. Com a intensificação das redes sociais, todo privado foi engolido por um público-privatizado. Pois é! Não existe mais solidão, mas os sofrimentos (que continuam muitos) ainda não são narrados!!! Quantas vezes pode ser lido no facebook alguém falando de seu sofrimento?! O Outro, além de um concorrente em potencial, virou risco de morte! Um abraço se tornou escândalo nacional, e com razão! Tudo isso serão cicatrizes em nossas almas. Porém Preciado não leva em consideração o sofrimento que Wenders aponta a todo momento em seu filme. Voltando a ele, Wenders fala da crise da narrativa oral, mas aposta na narrativa visual. Para os anjos, tempo e espaço é apenas um detalhe, portanto cenas horríveis do holocausto são mostradas, contrastadas com cenas do momento de então e com um filme que está sendo rodado (metalinguagem). A trilha sonora conta com Nick Cave & The Bad Seeds, Crime & The City Solution. A Fotografia é belíssima, principalmente quando o filme está em preto-e-branco. O roteiro é extremamente poético.... logorréico, mas poético. Vale apena conferir. É nóis!

Assista o filme Asas do Desejo

 

 

Filme: Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin)

Alemanha, 1987

Direção: Win Wenders

Roteiro: Peter Handke, Richard Reitinger, Win Wenders

Elenco: Bruno Ganz, Otto Sander, Solveig Dommartin, Curt Bois, Peter Falk

Duração: 127 min

As Asas do Desejo

As Asas do Desejo

Esse filme fala de uma grande ferida da Alemanha, do povo alemão: o Holocausto. É difícil conceber que este país (com tamanha tradição na filosofia) tenha sido palco de um dos episódios mais tristes, cruéis e estúpidos da História. Pois os personagens desta obra são os herdeiros da Shoah.

Personagens tristes, melancólicos, que parecem ter perdido o “dom” da narrativa. Estes seres não falam de seus sofrimentos com ninguém... se sabemos deles, é por meios dos anjos que ouvem suas almas. Curioso é quando um dos anjos começa a acompanhar um historiador muito velho com sua grande angústia: “quando eu morrer, quem continuará contando histórias para estas crianças?” Em outro momento, o historiador/contador de estórias irá comentar que cada alemão erigiu um muro ao redor de si. Sim, seguramente está falando da morte da narrativa, um tema tão recorrente na obra de Walter Benjamin. Por outro lado, o povo alemão continua sofrendo... no silêncio e na solidão.

Da mesma forma, o texto de Paul Preciado incluído no Sopa de Wuhan, fala de um ensimesmamento potencializado pela pandemia do coronavirus. As fronteiras fechadas dos Estados Nacionais, agora é nossa própria pele; o que Preciado chama de corpo-território. Com a intensificação das redes sociais, todo privado foi engolido por um público-privatizado. Pois é! Não existe mais solidão, mas os sofrimentos (que continuam muitos) ainda não são narrados!!! Quantas vezes pode ser lido no facebook alguém falando de seu sofrimento?! O Outro, além de um concorrente em potencial, virou risco de morte! Um abraço se tornou escândalo nacional, e com razão! Tudo isso serão cicatrizes em nossas almas. Porém Preciado não leva em consideração o sofrimento que Wenders aponta a todo momento em seu filme. Voltando a ele, Wenders fala da crise da narrativa oral, mas aposta na narrativa visual. Para os anjos, tempo e espaço é apenas um detalhe, portanto cenas horríveis do holocausto são mostradas, contrastadas com cenas do momento de então e com um filme que está sendo rodado (metalinguagem). A trilha sonora conta com Nick Cave & The Bad Seeds, Crime & The City Solution. A Fotografia é belíssima, principalmente quando o filme está em preto-e-branco. O roteiro é extremamente poético.... logorréico, mas poético. Vale apena conferir. É nóis!

Assista o filme Asas do Desejo

 

 

Filme: Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin)

Alemanha, 1987

Direção: Win Wenders

Roteiro: Peter Handke, Richard Reitinger, Win Wenders

Elenco: Bruno Ganz, Otto Sander, Solveig Dommartin, Curt Bois, Peter Falk

Duração: 127 min