O debate filosófico sobre a pertinência da categoria hegelo-marxista da alienação, em terras brasileiras, não se contém no âmbito estritamente conceitual, revelando-se de maneira significativa sua dimensão fática.



O filósofo Vilém Flusser, por exemplo, valeu-se dos atributos sócio-históricos da sociedade brasileira para tecer uma crítica ao con­ceito de alienação e, assim, justificar a sua tese de que há no marxismo hegeliano um universalismo que não contempla realidades como a do Brasil.

Este artigo se propõe a reavaliar o diagnóstico apresen­tado por Flusser, de modo a infirmar, a partir de um estudo de caso centrado na greve dos garis de 2014 no Rio de Janeiro, a generalização de que o brasilei­ro seria o Homo ludens, cuja realidade se manifesta na alienação.

Sugere-se, assim, uma interpretação alternativa para a relação entre o lúdico e o político no Brasil e, por via oblíqua, a reabilitação da noção hegeliana de alienação em face da crítica fenomeno­lógica que Flusser lhe confere.

Publicação do O Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo

Revista do Instituto de Estudos Brasileiros - Número 64 de 23 de agosto de 2016